Olá amigos da Rede Biblioteca Viva!
Segue entrevista com Michèle Petit, antropóloga, pesquisadora do Laboratório de Dinâmicas Sociais e Recomposição dos Espaços, do Centre National de la Recherche Scientifique, na França, e com obras traduzidas em vários países da Europa e da América Latina, como Éloge de la lecture: la construction de soi (2002) e Une enfance au pays des livres (2007), entre outros.
No Brasil, seu livro "Os jovens e a leitura" foi publicado recentemente pela editora 34 e também está disponível para empréstimos no CEDOC da Fundação Abrinq.Michèle Petit estará no Brasil na semana de 14 de Julho de 2008, quando participará de eventos da área de leitura e ação cultural (veja informes abaixo).
Confira algumas das idéias desta importante pesquisadora nesta entrevista gentilmente cedida à Rede Biblioteca Viva:PBV - Na França, de acordo com as suas pesquisas, em certos bairros populares, a biblioteca é, às vezes, o único lugar onde os jovens encontram seus amigos. Esta é uma função compatível com as outras funções da biblioteca?Michèle - Sim, para os adolescentes dos bairros populares que entrevistei nos anos 90, as bibliotecas eram com frequência o único lugar onde os jovens se encontravam, onde se reuniam e sentiam que participavam de um conjunto: “a biblioteca, era como um clube”, disse um jovem, por exemplo. Muitos também tinham o desejo de debater sobre assuntos da sociedade.
Evidentemente, estas sociabilidades são frequentemente ruidosas, e afastam outros públicos. Como fazer coexistir num mesmo espaço os que gostam de uma relação íntima com os livros e os que desejam que a biblioteca fosse, sobretudo, um lugar de debates, de sociabilidades, de encontros? Como a jovem que diz: “Quereria ver pessoas que nunca vi e com que poderia discutir assuntos”. Se por um lado é difícil de gerenciar tais situações, por outro esta pluralidade também é uma riqueza.
PBV - Você fala também sobre as redes de sociabilidade em torno da leitura. Poderia nos dizer como se constituem estas redes, quais as dificuldades e os desafios relacionados à sua constituição?
Michèle - Na França, as formas de sociabilidades em torno da leitura fazem-se a maior parte do tempo de maneira informal, mas existem cada vez mais eventos “organizados” onde as pessoas reúnem-se em torno dos livros.
Há cerca de quinze anos, os círculos de leitores multiplicaram-se em muitos países - frequentemente relacionados às bibliotecas. Muitos reúnem mulheres de 40 a 60 anos, classe média (como era o caso, por muito tempo, nos países anglo-saxões). Mas uma parte destes clubes tem pessoas de meios populares. Em especial, na América Latina, surpreendentes experiências literárias compartilhadas desenvolveram-se em regiões com conflitos armados, ou em violência contínua, com deslocações de populações, ou ainda com graves crises econômicas. Crianças, adolescentes e adultos que, até então, viveram muito distante dos livros, reúnem-se em volta de mitos ou lendas, poesias ou álbuns. Através dos livros, resistem à adversidade, e preservam um espaço de sonho, de liberdade, de pensamento. Sentem-se mais próximos um dos outros. Acabo de terminar um livro sobre este assunto, baseado na análise de experiências efetuadas na Argentina, na Colômbia, no México e aqui mesmo, no Brasil.
Um bom número destas formas de sociabilidades é impulsionado por mediadores que estão numa problemática militante. Alguns deles fazem explicitamente referência aos círculos de leitores Paulo Freire ou aos movimentos franceses de educação popular. A leitura compartilhada aparece-lhes como um meio para reunir diferentes pessoas - num tempo onde os partidos não conseguiam - para levar a repressão sobre a palavra e produzir experiências estéticas transformadoras (além de favorecer a apropriação da cultura escrita). Em tais grupos, a literatura não é um instrumento pedagógico, é uma reserva de onde se extrai algo para dar sentido à sua vida, pensá-la e imaginar outros caminhos.
Não se trata de idealizar estas sociabilidades ou de esperar mais do que poderiam dar. Mas uma espécie de rede flexível, ou antes, de movimento, constitui-se mesmo assim, de maneira muito interessante. Naturalmente, a diversidade destas sociabilidades é tal que seria necessário refinar muito a análise a partir de estudos do terreno. Nisto há belos assuntos de investigação!
PBV - Certos jovens reconhecem a importância da leitura, outros preferem a televisão e Internet. Como analisa isto?
Michèle - Não é necessariamente um ou, o outro. Por exemplo, a maior parte dos que puderam apropriar-se realmente da cultura escrita durante a infância (o que é diferente de aprender apenas a decifrar os códigos - letras), passa tranquilamente, sem mesmo dar-se conta da consulta dos seus e-mails, ou sites da Internet à leitura de um livro, da mesma maneira que passam de um filme ou uma série televisa à leitura do jornal, ouvindo ao mesmo tempo um CD, etc.
Mas é verdadeiro que à elevada dose, o uso de Internet e dos jogos de videogames parecem pouco compatíveis com a leitura: na França, uma pesquisa recente entre estudantes mostrou que os que lêem pouco, são também os que jogam várias horas por dia jogos nas telas (o que é uma prática mais masculina). Pelo contrário, os que lêem muito são frequentemente aqueles (e aquelas) cujos pais controlam, ou mesmo que proíbem o tempo que passam com jogos de videogames, ou na Internet.
As telas são “muito viciantes”. Pensam estas novas patologias que observam os reumatologistas, que seja devido ao fato das pessoas ficarem coladas horas ao seu computador, sem mesmo se darem conta que o seu corpo sofre, que estão numa má posição. Não se levanta os olhos de uma tela assim como de um livro.
Mas atenção aos discursos que transformam a leitura de apoio impresso num trabalho penoso para apenas satisfazer os adultos! A questão é tornar sutilmente a leitura desejável! Não se deve dizer: “Você deve ler, é bom para a ortografia, melhor que brincar com seus jogos de videogames, etc.” Além disso, com este tipo de frase, temos todas as possibilidades de impedir que um adolescente se aproxime um dia dos livros…
Desejar apropriar-se dos textos escritos supõe um encontro com alguém, dentro ou fora da família, que tenha a paixão pelos livros e que saiba transmitir esta paixão de maneira viva, calorosa… e não intrusa.
PBV - Atualmente fala-se muito sobre a importância das famílias e, sobretudo, das mães para apoio e estímulo à leitura. Isto é válido também em situações onde as mulheres devem assegurar os meios de subsistência? Além disso, fala-se muito em desenvolver o "gosto pela leitura", ou o "prazer de ler". Você acredita que seja possível ensinar o prazer? Cabe ao Estado e aos serviços públicos interferir na esfera da intimidade?
Michèle - Nenhuma receita garante que uma criança lerá, mas a capacidade de estabelecer um relacionamento afetivo com os livros, emotivo, sensorial e não somente cognitivo, parece decisiva, da mesma maneira que as leituras em voz alta: na França, o peso dos grandes leitores é duas vezes mais importante entre aqueles que mãe contava a cada dia uma história, que entre os que não tiveram a mesma oportunidade. Antes do encontro com o livro, ele dá à voz da mãe, ou às vezes ao pai, ou em certos contextos culturais da avó, ou outra pessoa a quem a criança é confiada, que lê ou conta histórias.
Mas quando a luta para a sobrevivência monopoliza o tempo diário, quando a mãe está fragilizada, deprimida, é pouco apoiada por seus familiares, não está em condições de contar uma história, ou de ler uma (o que nos faz supor que ela pôde apropriar-se de livros), frequentemente esquece as legendas que haviam lhe transmitido em sua própria infância. Ou a linguagem serve apenas à designação imediata das coisas. Deste modo, as crianças não cumprirão uma etapa para integrarem os diferentes registros da língua e se apropriarem um dia realmente da cultura escrita: a etapa onde a literatura, oral ou escrita, inicia a um uso essencial das palavras, vital, “inútil”, mais perto da vivacidade dos sentidos e do prazer compartilhado, o mais distante possível do controlo e da notação.
Felizmente, mediadores culturais podem recriar situações oralmente felizes, permitindo um retrocesso a um tempo onde as palavras são bebidas como leite e mel. Isto é muito difícil de acontecer no espaço da sala de aula, que é o das aprendizagens formais e da notação, da classificação, do controlo - ainda que alguns professores tenham eles mesmos uma grande paixão pela leitura. E a escola não pode tudo: é necessário diversificar os espaços onde possibilidades de encontros são oferecidas às crianças e ao seu ambiente. A transmissão cultural, não é somente uma pergunta escolar. Os bibliotecários, em especial, têm lá um papel essencial neste jogo.
Recordo frequentemente que as bibliotecas não são apenas templos da informação, mas também os conservatórios de sentidos. Qualquer ser humano tem, de maneira vital, necessidade de ter à sua disposição espaços onde possam encontrar mediações imaginárias e simbólicas para pensar a sua vida, dar forma simbolizada às suas emoções, às suas esperanças, às suas revoltas, aos seus temores; para fazer um relato da sua própria história, uma história sempre recomposta, sempre retomada. Somos seres de relatos, das histórias, da narração, não esqueçamos disto. E os jovens que ouvi me fizeram compreender que é muito mais fácil pensar a sua própria história num conjunto se for “povoando-se” de numerosas pequenas histórias das quais se apropriam.
Não se trata que o Estado interfira no que cada um fará com as poesias, os conhecimentos, dos quais se apropriam, mas cada um de nós tem os direitos culturais: o direito à educação, e mais amplamente o direito ao saber e à informação, sobre todas as suas formas, todos os apoios; o direito de acender à sua história, à sua cultura de origem, mas também o direito de construir-se através das palavras que às vezes foram escritas à outra extremidade da terra, ou em outras épocas, e que nos faz aprender muito sobre nós mesmos, às vezes de maneira luminosa.
O que incumbe ao Estado é dar a cada um a possibilidade de exercer os seus direitos, de descobrir outros mundos, de extrair neste tesouro de experiências humanas que são reunidas em livros e outros bem culturais.
* versão original em francês:
PBV - En France, d’après vos recherches, dans certains quartiers populaires, les bibliothèques sont parfois le seul lieu où des jeunes retrouvent leurs amis. Est-ce compatible avec d’autres fonctions de la bibliothèque ?
Michèle - Oui, pour les adolescents des quartiers populaires avec qui j’avais fait des entretiens dans les années 1990, les bibliothèques étaient souvent le seul lieu où se retrouver, où se réunir, où sentir qu’ils participaient d'un ensemble : « la bibliothèque, c’était comme un club », m’a dit par exemple un jeune homme. Beaucoup avaient le désir d’y débattre aussi sur des sujets de société.
Evidemment, ces sociabilités sont souvent bruyantes, et cela éloigne d’autres publics. Comment faire coexister en un même espace ceux qui sont attachés au commerce intime avec le livre, et ceux qui voudraient que la bibliothèque soit avant tout un lieu de débats, de sociabilités, de rencontres, comme cette jeune fille qui dit : « Je voudrais voir des gens que j’ai jamais vus, et avec qui je pourrais discuter sur un sujet » ? Mais si elle est difficile à gérer, cette pluralité est une richesse.
PBV - Plus largement, vous parlez des réseaux de sociabilité autour de la lecture. Pourriez-vous nous dire comment se constituent ces réseaux, et quels sont les enjeux liés à leur constitution?
Michèle - En France, les formes de sociabilités autour de la lecture se font la plupart du temps de façon informelle, mais il existe de plus en plus d’événements « organisés » où des gens se rassemblent autour de livres.
Depuis une quinzaine d’années, des cercles de lecteurs se sont d’ailleurs multipliés dans beaucoup de pays, de part et d’autre de l’Atlantique - souvent en lien avec des bibliothèques. Beaucoup d’entre eux regroupent des femmes de 40 à 60 ans, de classes moyennes (comme c’était le cas, depuis longtemps, dans les pays anglo-saxons). Mais une partie de ces clubs touchent des personnes de milieux populaires. En particulier, en Amérique latine, d’étonnantes expériences littéraires partagées se sont développées, notamment dans des régions confrontées à des conflits armés ou à une violence continue, ou à des déplacements de populations ou à des crises économiques. Des enfants, des adolescents et des adultes qui, jusque-là, avaient vécu très loin des livres, se rassemblent autour de mythes ou de légendes, de poésies ou d’albums. Par ce biais, ils résistent à l’adversité et préservent un espace de rêve, de liberté, de pensée – et ils se sentent plus proches les uns des autres. Je viens de terminer un livre sur ce sujet, fondé sur l’analyse d’expériences menées en Argentine, en Colombie, au Mexique, ici même.
Nombre de ces formes de sociabilités sont impulsées par des médiateurs qui sont dans une problématique militante. Certains d’entre eux font explicitement référence aux cercles de lecteurs de Paulo Freire ou aux mouvements français d’éducation populaire. La lecture partagée leur apparaît comme un moyen de rassembler autrement des gens, en un temps où les partis politiques y échouent, de lever la répression sur la parole et de produire des expériences esthétiques transformatrices (en plus de favoriser l’appropriation de la culture écrite). Dans de tels groupes, la littérature n’est pas un outil pédagogique, c’est une réserve où puiser pour donner sens à sa vie, la penser, imaginer d’autres possibles.
Il ne s’agit pas d’idéaliser ces sociabilités ou d’en attendre plus qu’elles ne pourraient donner. Mais une sorte de réseau souple, ou plutôt de mouvement, se constitue quand même, de façon très intéressante. Bien entendu, la diversité de ces sociabilités est telle qu’il faudrait affiner beaucoup l’analyse à partir d’études de terrain. Il y a là de beaux sujets de recherche !
PBV - Certains jeunes reconnaissent l'importance de la lecture, d’autres préfèrent la télévision et Internet. Comment analysez-vous cela?
Michèle - Ce n’est pas forcément l’un ou l’autre. Par exemple, la plupart de ceux qui ont pu s’approprier réellement la culture écrite dès l’enfance (ce qui est différent d’apprendre à déchiffrer), passent tranquillement, sans même s’en rendre compte, de la consultation de leurs courriers électroniques ou de sites Internet à la lecture d’un livre, tout comme ils passent du visionnage d’un film ou d’une série télé à la lecture du journal, tout en écoutant un CD, etc.
Mais il est vrai qu’à haute dose, l’usage d’Internet et des jeux vidéos semble peu compatible avec la lecture : en France, une enquête récente parmi des collégiens et des lycéens a montré que ceux qui lisent peu sont aussi ceux qui jouent plusieurs heures par jour à des jeux sur écran (ce qui est une pratique plus masculine). A l’inverse, ceux qui lisent beaucoup sont souvent ceux (et celles) dont les parents contrôlent le temps qu’ils passent à jouer à des jeux vidéos ou à aller sur Internet, ou même qui interdisent ces usages.
Les écrans sont très « addictants ». Pensons à ces nouvelles pathologies qu’observent les rhumatologues, dues au fait que les gens sont collés des heures à leur ordinateur, sans même se rendre compte que leur corps souffre, qu’ils sont dans une mauvaise position. On ne lève pas les yeux d’un écran comme d’un livre.
Mais attention aux discours qui transforment la lecture de supports imprimés en une corvée à laquelle il faudrait se soumettre pour satisfaire les adultes ! Ce dont il s’agit, c’est de rendre subtilement la lecture désirable ! Ce n’est pas de dire : « Tu dois lire, c’est bon pour l’orthographe, plutôt que de jouer à tes jeux, etc. » Avec ce type de phrases, on a toutes les chances de dissuader un adolescent de s’approcher un jour des livres…
Avoir envie de s’approprier des textes écrits, cela suppose de rencontrer quelqu’un, à l’intérieur ou à l’extérieur de la famille, qui a lui-même le goût des livres et qui sait transmettre ce goût de façon vivante, chaleureuse… et non intrusive.
PBV - Vous parlez de l'importance des familles, et surtout des mères, pour donner le goût de la lecture. Est-ce vrai aussi dans les situations où les femmes doivent assurer seules les moyens de subsistance ? Par ailleurs, actuellement, on parle beaucoup de développer le "désir de lire" ou "le plaisir de lire". Vous croyez qu’il est possible d’enseigner le plaisir? Est-ce à l'État et aux services publics d’interférer dans la sphère de l'intimité?
Michèle - Aucune recette ne garantit qu’un enfant lira, mais la capacité à établir avec les livres un rapport affectif, émotif, sensoriel, et pas seulement cognitif, semble décisive, tout comme les lectures oralisées : en France, le poids des grands lecteurs est deux fois plus important parmi ceux à qui leur mère a conté chaque jour une histoire que parmi ceux qui n’en ont écoutée aucune. Avant la rencontre avec le livre, il y a la voix de la mère, ou quelquefois du père, ou dans certains contextes culturels de la grand-mère ou d’une autre personne à qui l’enfant est confié, qui lit ou conte des histoires.
Mais quand la lutte pour la survie accapare le temps quotidien, quand la mère est fragilisée ou déprimée, et peu soutenue par ses proches, elle n’est pas en mesure de raconter une histoire, encore moins d’en lire une (ce qui supposerait qu’elle ait pu s’approprier des livres). Elle a même souvent oublié les légendes qu’on lui avait transmises dans sa propre enfance. Ou bien le langage ne sert qu’à la désignation immédiate des choses. Une étape manquera alors aux enfants pour intégrer les différents registres de la langue et s’approprier un jour réellement la culture écrite : celle où la littérature, orale ou écrite, initie à un usage des mots essentiel, vital, « inutile », au plus près de la vivacité des sens et du plaisir partagé, au plus loin du contrôle et de la notation.
Heureusement, des médiateurs culturels peuvent recréer des situations d’oralité heureuse, permettant une retraversée, un détour par ce temps où les mots sont bus comme du lait ou du miel. C’est très difficile dans l’espace de la classe qui est celui des apprentissages et de la notation, du classement, du contrôle – même si quelques enseignants, qui ont eux-mêmes un grand goût pour la lecture, y arrivent. Et l’école ne peut pas tout : il faut diversifier les espaces où des possibilités de faire des rencontres seraient offertes aux enfants et à leur entourage. La transmission culturelle, ce n’est pas seulement une question scolaire. Les bibliothécaires, en particulier, ont là un rôle essentiel à jouer.
Je rappelle souvent que les bibliothèques ne sont pas seulement des temples de l’information, mais aussi des conservatoires de sens. Tout être humain a, de façon vitale, besoin d’avoir à sa disposition des espaces où trouver des médiations fictionnelles et symboliques pour penser sa vie, pour donner forme symbolisée à ses émotions, ses espoirs, ses révoltes, ses craintes ; pour faire le récit de sa propre histoire, une histoire toujours recomposable, toujours à reprendre. Nous sommes des êtres de récits, ne l’oublions pas. Et les jeunes que j’ai écoutés m’ont fait comprendre qu’il est beaucoup plus facile de penser sa propre histoire dans un ensemble si l’on est « peuplé » de nombreuses petites histoires que l’on s’est appropriées.
Il ne s’agit pas que l’Etat se mêle de ce que chacun fera avec les récits, les poésies, les savoirs, dont il s’appropriera. Mais chacun de nous a des droits culturels : le droit à l’éducation, et plus largement le droit au savoir et à l’information, sous toutes ses formes, tous ses supports ; le droit d’accéder à son histoire, sa culture d’origine, mais aussi le droit de se construire à l’aide de mots qui ont parfois été écrits à l’autre bout de la terre, ou dans d’autres époques, et qui nous en apprennent long sur nous-mêmes, quelquefois de façon lumineuse.
Ce qui incombe à l’Etat, c’est de donner à chacun la possibilité d’exercer ses droits, de découvrir d’autres mondes, de puiser dans ce trésor d’expériences humaines qui sont rassemblées dans des livres, et dans d’autres bien culturels.