terça-feira, 24 de março de 2009
'Zelador livreiro' tem biblioteca despejada no interior de São Paulo
http://oglobo.globo.com/sp/mat/2009/03/23/zelador-livreiro-tem-biblioteca-despejada-no-interior-de-sao-paulo-754957644.asp
Plantão Publicada em 23/03/2009 às 18h28m
EPTV.com SÃO PAULO - Os primeiros livros e revistas foram recolhidos das lixeiras dos grandes edifícios. Acumulados ao longo de cinco anos pelo zelador Sebastião Silvestre Morais Filho, somaram cerca de seis mil unidades - 4.200 livros e quase duas mil revistas. Nos últimos dois anos, as crianças e estudantes da periferia de Cravinhos, a 294 quilômetros da capital paulista, se divertiram com o variado acervo. Entre os infantis, o campeão de procura era "O Ratinho Comilão". As histórias do "Menino Maluquinho" e os "Caça-palavras" também estavam entre os mais pedidos. Adolescentes liam Agatha Cristhie e os estudantes preferiam livros didáticos. Havia títulos até para universitários. Mas agora, não se sabe o motivo, o acervo está sendo despejado pela prefeitura. Amontados numa sala do Fundo de Solidariedade, os exemplares são considerados estorvos. Por isso, Morais, que mora em Cravinhos e trabalha como zelador em Ribeirão Preto, está sendo pressionado para levar seus "cacarecos" para outro local. O acervo dele foi útil à prefeitura até o fim do ano passado. De 2007 a 2009, com a criação de um projeto desenvolvido por ele mesmo - Projeto Crê-Ser -, os livros e revistas foram expostos, nos finais de semanas e feriados, em várias praças da periferia da cidade. O sucesso foi tão grande que Morais Filho cadastrou mais de 300 famílias. Os livros eram levados ao local de exposição e recolhidos por uma perua da prefeitura. Sem remuneração, o zelador tinha orgulho de supervisionar o projeto. O Crê-Ser tinha um funcionamento simples. Adolescentes, estudantes ou crianças acompanhadas dos pais poderiam levar livros ou revistas para casa. Na semana seguinte, se quisessem outros exemplares, teriam que trazer os que haviam retirados. Tudo muito bem, até que a prefeitura decidiu suspender o projeto e despejar o acervo. Pressionado para recolher o acervo e sem ter onde colocá-lo, Morais Filho entrou em pânico e contou seu drama para alguns moradores do edifício Plaza Tower, onde trabalha. Vários aderiram ao pedido de socorro, entre os quais os juízes do Trabalho Paulo Henrique Caiado Martins, Amauri Barbosa e o advogado Marcos de Lima. Eles decidiram criar o Projeto Biblioteca na Calçada. Vão financiar, a partir de segunda-feira, a construção de um cômodo na casa do zelador, na rua Domingo Carloni, 159, onde serão acomodados os títulos. Assim, nos finais de semana e feriados, em frente à casa, sob toldos azuis, as crianças, adolescentes e estudantes de Cravinhos poderão, novamente, ter contato com os livros. O secretário da Cultura de Cravinhos, Marco Antônio Capecci, confirmou que o projeto Crê-Ser não interessa mesmo à atual administração. Mas negou que tenha pressionado o zelador a retirar o acervo de 4.200 livros e duas mil revistas de uma das salas do Fundo de Solidariedade. - Os livros estão guardados lá, quem manda sou eu - disse. Mas, na manhã de domingo, uma funcionária da secretaria da Educação perguntou ao zelador quando ele retiraria os livros da sala, que será usada para reuniões. O juiz do Trabalho Paulo Henrique Caiado Martins disse que ficou comovido com o drama de Morais Filho, ameaçado de ter seu acervo despejado pela prefeitura de Cravinhos. - Um homem simples, sem perspectivas de grandes salários, de formação simples e preocupado em oferecer lazer e cultura às pessoas. Isso é raro e maravilhoso. Aceitamos desenvolver o projeto "Biblioteca na Calçada" por motivo de cidadania, apenas isso - afirmou. Quanto a decisão da prefeitura de Cravinhos, o juiz disse "ter sido uma visão tosca, sem compromisso com a cultura".
Plantão Publicada em 23/03/2009 às 18h28m
EPTV.com SÃO PAULO - Os primeiros livros e revistas foram recolhidos das lixeiras dos grandes edifícios. Acumulados ao longo de cinco anos pelo zelador Sebastião Silvestre Morais Filho, somaram cerca de seis mil unidades - 4.200 livros e quase duas mil revistas. Nos últimos dois anos, as crianças e estudantes da periferia de Cravinhos, a 294 quilômetros da capital paulista, se divertiram com o variado acervo. Entre os infantis, o campeão de procura era "O Ratinho Comilão". As histórias do "Menino Maluquinho" e os "Caça-palavras" também estavam entre os mais pedidos. Adolescentes liam Agatha Cristhie e os estudantes preferiam livros didáticos. Havia títulos até para universitários. Mas agora, não se sabe o motivo, o acervo está sendo despejado pela prefeitura. Amontados numa sala do Fundo de Solidariedade, os exemplares são considerados estorvos. Por isso, Morais, que mora em Cravinhos e trabalha como zelador em Ribeirão Preto, está sendo pressionado para levar seus "cacarecos" para outro local. O acervo dele foi útil à prefeitura até o fim do ano passado. De 2007 a 2009, com a criação de um projeto desenvolvido por ele mesmo - Projeto Crê-Ser -, os livros e revistas foram expostos, nos finais de semanas e feriados, em várias praças da periferia da cidade. O sucesso foi tão grande que Morais Filho cadastrou mais de 300 famílias. Os livros eram levados ao local de exposição e recolhidos por uma perua da prefeitura. Sem remuneração, o zelador tinha orgulho de supervisionar o projeto. O Crê-Ser tinha um funcionamento simples. Adolescentes, estudantes ou crianças acompanhadas dos pais poderiam levar livros ou revistas para casa. Na semana seguinte, se quisessem outros exemplares, teriam que trazer os que haviam retirados. Tudo muito bem, até que a prefeitura decidiu suspender o projeto e despejar o acervo. Pressionado para recolher o acervo e sem ter onde colocá-lo, Morais Filho entrou em pânico e contou seu drama para alguns moradores do edifício Plaza Tower, onde trabalha. Vários aderiram ao pedido de socorro, entre os quais os juízes do Trabalho Paulo Henrique Caiado Martins, Amauri Barbosa e o advogado Marcos de Lima. Eles decidiram criar o Projeto Biblioteca na Calçada. Vão financiar, a partir de segunda-feira, a construção de um cômodo na casa do zelador, na rua Domingo Carloni, 159, onde serão acomodados os títulos. Assim, nos finais de semana e feriados, em frente à casa, sob toldos azuis, as crianças, adolescentes e estudantes de Cravinhos poderão, novamente, ter contato com os livros. O secretário da Cultura de Cravinhos, Marco Antônio Capecci, confirmou que o projeto Crê-Ser não interessa mesmo à atual administração. Mas negou que tenha pressionado o zelador a retirar o acervo de 4.200 livros e duas mil revistas de uma das salas do Fundo de Solidariedade. - Os livros estão guardados lá, quem manda sou eu - disse. Mas, na manhã de domingo, uma funcionária da secretaria da Educação perguntou ao zelador quando ele retiraria os livros da sala, que será usada para reuniões. O juiz do Trabalho Paulo Henrique Caiado Martins disse que ficou comovido com o drama de Morais Filho, ameaçado de ter seu acervo despejado pela prefeitura de Cravinhos. - Um homem simples, sem perspectivas de grandes salários, de formação simples e preocupado em oferecer lazer e cultura às pessoas. Isso é raro e maravilhoso. Aceitamos desenvolver o projeto "Biblioteca na Calçada" por motivo de cidadania, apenas isso - afirmou. Quanto a decisão da prefeitura de Cravinhos, o juiz disse "ter sido uma visão tosca, sem compromisso com a cultura".
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